CARTA ENCÍCLICA
SPES CONTRA SPEM
DO SANTO PADRE
LUCAS
AOS BISPOS
AOS PRESBÍTEROS E AOS DIÁCONOS
ÀS PESSOAS CONSAGRADAS
E A TODOS OS FIÉIS LEIGOS
SOBRE A ESPERANÇA CRISTÃ
E O TESTEMUNHO DA FÉ NO ORBE VIRTUAL
PROÊMIO
1. "Esperando contra toda esperança, ele acreditou e se tornou pai de muitos povos" (Rm 4,18). Estas palavras do Apóstolo Paulo ressoam como um convite à confiança radical em Deus. Abraão, nosso pai na fé, caminhou por estradas desconhecidas, com os olhos fixos apenas e tão somente na promessa do Senhor. Em sua velhice, quando tudo parecia impossível, não se deixou vencer pelo desânimo, mas entregou-se à esperança, e Deus cumpriu sua promessa. Que grande testemunho para nós, que tantas vezes nos sentimos tentados a desistir!
2. Vivemos um tempo de desafios e incertezas; em nosso orbe virtual, as marés tempestuosas por vezes parecem ameaçar a Barca de Pedro. No entanto, queridos irmãos e irmãs, o Senhor Jesus está conosco e maior ainda é nossa alegria porque estamos inseridos num tempo especial de graça: o Ano Jubilar da Esperança! A Igreja, como mãe amorosa, nos recorda que, mesmo quando as sombras do mundo parecem sufocar a luz, Cristo permanece conosco. Ele é nossa esperança segura, nossa ancora firme no mar revolto da vida.
3. Com o coração repleto de gratidão, ofereço-vos esta encíclica como um pequeno testamento, uma partilha de tudo aquilo que ardeu em meu coração ao longo deste pontificado. Meu desejo é que estas palavras sejam um sopro de esperança para aqueles que se sentem cansados na caminhada, um incentivo para aqueles que perseveram, e um chamado à fidelidade para toda a Igreja.
CAPÍTULO I:
A ESPERANÇA NÃO DECEPCIONA
4. "Spes non confundit – a esperança não engana" (Rm 5, 5), assim o Papa Francisco iniciou a Bula de Proclamação do Jubileu Ordinário de 2025 [1]. O Apóstolo Paulo escreveu essas palavras para uma comunidade que vivia em tempos de incerteza, rodeada por inúmeros desafios inerentes à sua época; ainda hoje, contudo, ainda que não mais se viva os mesmos desafios, inúmeros de nós sentem-se completamente desnorteados. Olhamos ao nosso redor e vemos um mundo marcado por violência, desigualdade, solidão. Muitos jovens sentem-se perdidos, sem rumo, como se a esperança fosse apenas um sonho distante, uma utopia vazia e abstrata, pregada por homens que, sentindo-se vazios, como afirma o filósofo Ludwig Feuerbach, divinizam-se [2].
5. É fácil perder a esperança quando os dias parecem cinzentos, quando os planos desmoronam, quando as portas se fecham. No mundo digital, onde a felicidade muitas vezes é medida em curtidas e seguidores, há muitos corações que ainda não compreenderam a verdadeira felicidade.. Tantos rostos sorrindo nas telas, mas chorando em silêncio. Como acreditar que o amanhã pode ser melhor quando tudo parece incerto?
6. E ainda assim, dentro de cada um de nós, a esperança pulsa. O próprio Papa Francisco nos lembra que todos esperam. Esperamos amor, esperançamos dias melhores, esperamos ser compreendidos. Essa esperança não é ilusória, não é um simples desejo. Ela tem um rosto, um nome: Jesus Cristo. Ele é a certeza de que nunca estamos sozinhos, de que Deus caminha conosco, mesmo nos momentos de dor e incerteza. Temos a plena certeza de que não somos homens vazios que divinizam a si mesmos ou à natureza, pelo simples e contundente fato de que a esperança não nasce em nós através de teorias filosóficas ou fórmulas matemáticas mas porque fazemos, quotidianamente, a experiência com a pessoa de Jesus Cristo.
7. Desta experiência de amor com o Amor, brota a esperança, ensina-nos São Paulo: "A esperança não decepciona - assim iniciou o Papa Francisco, conforme vimos, na Bula de convocação do Ano Jubilar da Esperança - porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Rm 5,5). Esse amor é forte, maior que qualquer medo. E quando sentimos que não temos mais forças para continuar, é o próprio Jesus quem nos sustenta. Mas a esperança também exige paciência. Num mundo onde tudo precisa ser imediato, onde queremos respostas rápidas, aprendemos que a esperança se constrói na confiança e na espera. "Gloriamo-nos também das tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência, a paciência a firmeza, e a firmeza a esperança" (Rm 5,3-4).
8. E se há um homem que entendeu o que significa esperar, esse homem foi Abraão. Ele foi chamado para acreditar no impossível, para confiar quando tudo parecia perdido. "Esperando contra toda esperança" (Rm 4,18), ele se manteve fiel. Sua história não é só sobre um passado distante, mas um espelho para nós. Como Abraão, também somos chamados a esperar contra toda esperança, a confiar que Deus tem um plano para cada um de nós, mesmo quando ainda não conseguimos enxergá-lo.
9. Queridos jovens do Habbo Hotel, jovens deste orbe virtual: essa esperança também é para cada um de nós. Se a vida parece um labirinto sem saída, se os dias são pesados, se a solidão aperta o peito, é necessário proclamar com em alto e bom tom: Ele está conosco todos os dias até a consumação dos tempos! (Cf. Mt 28,20).
CAPÍTULO II:
CHAMADOS À UMA VOCAÇÃO SUBLIME
10. "Todos foram convidados ou, melhor, atraídos pelo desejo ardente que Jesus tem de comer aquela Páscoa com eles: Ele sabe que é o Cordeiro daquela Páscoa, sabe que é a Páscoa", explicita de forma belíssima o Papa Francisco em sua Carta Apostólica 'Desiderio Desideravi' [3]. "Antes da nossa resposta ao convite – muito antes – está o seu desejo de nós: até podemos não ter consciência disso, mas de cada vez que vamos à Missa a razão primeira é porque somos atraídos pelo seu desejo de nós. Por nossa parte, a resposta possível, a ascese mais exigente é, como sempre, a de nos rendermos ao seu amor, de nos deixarmos atrair por Ele" [4].
11. Queridos filhos, desde os primórdios da humanidade, Deus tem olhado para cada um de nós com um amor que antecede nossa própria existência. Não somos fruto do acaso, mas do desejo ardente de Deus, que nos chama pelo nome (cf. Is 43,1). A vocação cristã não é um peso, mas um dom. É um chamado que nos encontra onde estamos, com nossas fraquezas e limitações, mas que nos impulsiona a algo maior: à plenitude do amor, que só pode se concretizar em Jesus Cristo.
12. O próprio Mestre, antes de nos chamar ao serviço, nos chama à comunhão com Ele. Recordemos aquela noite à beira do lago, quando os discípulos, frustrados e cansados, não tinham pescado nada. Jesus os convida a lançar novamente as redes, e Pedro, mesmo duvidoso, obedece: “Senhor, em atenção à tua palavra, lançarei as redes” (Lc 5,5). O milagre acontece. Mas o maior milagre não foi a pesca abundante, e sim a transformação daqueles homens que, a partir daquele encontro pessoal com o Doce Nazareno, deixaram tudo para segui-Lo.
13. É assim que Deus age. Ele nos encontra na simplicidade do nosso dia a dia e nos convida a, no ordinário, vivenciar o extraordinário. Mas esse chamado não é imposto, e sim oferecido como um convite à liberdade: "Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me" (Mt 19,21).
14. Quantas vezes sentimos esse desejo profundo de uma vida que vá além do rotineiro! Nos corações jovens, especialmente, há uma inquietação, um desejo de fazer a diferença, de ser parte de algo grandioso. Essa inquietação é sagrada! É o próprio Deus despertando o coração para uma vocação sublime: a santidade. O Concílio Vaticano II recordou com força esta verdade: "Todos os fiéis, seja qual for a sua condição ou estado, são chamados pelo Senhor à perfeição do Pai, cada um por seu caminho" [6]. Ser santo não é privilégio de alguns, mas o chamado universal de todos os batizados.
15. Queridos filhos, ser santo, contudo, não significa viver distante do mundo ou numa realidade inatingível. Pelo contrário, significa viver no mundo sem pertencer a ele (cf. Jo 17,16), deixando que Cristo molde nosso coração e nossas ações. "Sede santos, porque Eu sou santo" (Lv 11,44) – eis a voz de Deus ecoando pela história. A santidade não consiste em nunca cair, mas em sempre levantar-se com a graça de Deus, explica-nos a tão grande e tão pequena Doutora da Igreja, Santa Teresa de Liseux, "a perfeição consiste em fazer a sua vontade, em ser aquilo que Ele quer que sejamos".
16. Sob esta perspectiva, esta santidade, se encarna em vocações específicas. Há aqueles que são chamados ao sacerdócio, para serem pastores segundo o coração de Cristo, que dão suas vidas para alimentar o povo de Deus. Há aqueles que seguem a vida consagrada, testemunhando no mundo que Deus é o único necessário. Há aqueles que, no matrimônio, vivem o amor como reflexo do amor de Cristo pela Igreja (cf. Ef 5,25). Há ainda os que, como leigos e leigas, consagram sua vida no meio do mundo, sendo fermento do Evangelho na sociedade. No orbe virtual, a Igreja tem por vocação e missão principal ser "um pequeno reflexo da glória da Igreja na realidade" [7].
CAPÍTULO III:
VOCACIONADOS AO ANÚNCIO
17. A Igreja, fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo, nasceu do coração trespassado do Redentor (cf. Jo 19,34) como sinal e instrumento de salvação para toda a humanidade. Desde os primeiros tempos, impulsionada pelo Espírito Santo, ela se faz missionária, levando a Boa Nova "até os confins da terra" (At 1,8). Os Apóstolos, fortalecidos pelo fogo de Pentecostes, deram início a uma missão que atravessaria séculos e fronteiras, ecoando em cada geração o mandato do Senhor: "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16,15).
18. Neste sentido, foi com esse espírito que, em meados de 2006, um pequeno grupo de adolescentes, movidos por um desejo profundo de anunciar o Evangelho, ousou abrir as portas do Habbo Hotel para Cristo. Como aqueles discípulos a caminho de Emaús, seus corações ardiam enquanto partilhavam a fé e levavam a esperança àqueles que encontravam nesse espaço digital. "Não estava ardendo o nosso coração quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?" (Lc 24,32).
19. Esse primeiro impulso evangelizador, dado, sobretudo com a eleição de Gregório XVII, o Magno, nosso venerável predecessor, tinha como objetivo "anunciar, sem medo, a doce e reconfortante Alegria do Evangelho num mundo cada vez mais fechado ao Senhor Jesus" [8]. Aqueles jovens pioneiros, com recursos limitados, mas cheios de zelo, deram início a uma obra que se perpetua até hoje, como testemunho vivo de que Cristo vive e nos quer vivos, como Suas testemunhas.
20. Queridos filhos, a missão no Habbo Hotel é, antes de tudo, um compromisso de fé. "A Igreja edifica-se neste meio virtual pelo testemunho de cada um de nós" [9]. Não se trata de mero entretenimento ou passatempo, mas de um chamado à santidade, um convite a refletir a glória da Igreja real, sendo luz e esperança em meio ao mundo digital. A Igreja aqui presente deve sempre recordar que sua vocação primordial é o anúncio do Evangelho, ecoando as palavras de São João Paulo II: "Não tenhais medo! Abri, ou melhor, escancarai as portas a Cristo!" [10].
21. Esta vocação primordial, porém, não se resume a palavras ou estruturas: ela nasce do encontro pessoal com Cristo, que transforma a vida e acende em nós a chama do anúncio. Evangelizar é mais que um dever, é a expressão natural de quem foi alcançado pelo amor de Deus. Não podemos calar aquilo que vimos e ouvimos; o Cristo que ardia no coração dos discípulos de Emaús também arde no nosso, e é esse fogo que nos impele a levar adiante a Boa Nova, para que todo coração queimar possa na alegria do encontro com o Ressuscitado. "A Igreja existe para evangelizar, mas muitas vezes ela se esquece. E quando isso acontece, ela se torna triste, perde a alegria, adoece" [11]. É peremptório que jamais percamos de vista nossa missão: sermos portadores da Luz que não se apaga.
CAPÍTULO IV:
SERVIR NA ALEGRIA E NA HUMILDADE
22. "Quando, ao invés, a Igreja se coloca novamente na escola do Evangelho e se põe outra vez a anunciá-lo, ela se torna novamente jovem e descobre a beleza do dom que é o Cristo vivo, o Crucificado Ressuscitado, um dom recebido e a ser transmitido. E redescobre a alegria de servir" [12]. Queridos filhos, servir não é uma tarefa árdua ou um peso, mas uma alegria genuína que nasce do coração transformado pelo amor de Cristo. Ao anunciar o Evangelho com a mesma dedicação que os primeiros discípulos, a Igreja se renova e vive, com alegria, entusiasmo e veracidade, a sua nobre e primordial vocação.
23. Essa alegria de servir é mais que uma tarefa ou um ato pontual, mas brota do coração que realizou a experiência pessoal com o Senhor. O próprio Cristo, em cada Celebração Eucarística, pela voz do Sacerdote, nos apresenta sua entrega total: “Este é o meu Corpo, que será entregue por vós” (Lc 22,19). O Verbo Encarnado verdadeiramente se entregou por nós, e ao participar de Seu Corpo e Sangue, somos chamados a também vivermos essa entrega radical, a doarmos nossa vida, sem reservas, no serviço ao próximo; assim exorta-nos São João, em sua Primeira Carta, "nisto temos conhecido o amor: Ele deu sua vida por nós. Também nós devemos dar a nossa vida pelos nossos irmãos" (1Jo 3,16).
24. Sob este viés, é imperativo que o serviço da Igreja seja fundamentado na nobre diaconia da humildade, que Jesus nos ensinou com a doação de sua própria vida; aqui penso, sobretudo, no gesto do Lava-pés. O Mestre, ao lavar os pés de Seus discípulos, nos mostrou que, no Reino de Deus, a grandeza não se mede pelo poder, mas pelo serviço; “se, portanto, Eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros” (Jo 13,14). Aqui está a radicalidade do serviço cristão: Jesus, o Filho de Deus, o Messias Esperado, o Rei do Universo, se coloca na posição do servo. Ele, que é a Fonte de toda autoridade, não usou de Sua posição para dominar, mas para servir com amor, afinal, a própria onipotência de Deus, ensina-nos São Tomás de Aquino, é a misericórdia [12].
25. O cristão é chamado a seguir este exemplo, a não olhar para o serviço como um fardo, mas como uma oportunidade de ser reflexo de Cristo ao mundo, afinal, ensina-nos o grande São João da Cruz, "põe amor aonde não há amor e tirarás amor" [13]. Todos somos chamados a ser 'outros Cristos' no mundo, colocando em prática, exorta-nos São Josemaría Escrivá, o mandamento novo do Amor. "Temos que reconhecer Cristo que nos sai ao encontro nos nossos irmãos, os homens. Nenhuma vida humana é uma vida isolada, mas entrelaça-se com as outras vidas. Nenhuma pessoa é um verso solto: fazemos todos parte de um mesmo poema divino, que Deus escreve com o concurso da nossa liberdade" [14]. Assim, o serviço cristão não é um ato de humilhação, mas de exaltação do outro, como Ele fez por nós na Cruz. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos amigos” (Jo 15,13). A entrega de Cristo, na Eucaristia e na Cruz, nos ensina que o verdadeiro serviço se dá na doação completa de si, no amor que não busca retorno, mas que busca, antes de tudo, o bem do outro.
26. A Eucaristia, instituição do Senhor, é o maior convite a essa vida de serviço. Jesus, ao se oferecer como Pão da Vida, nos chama a participar desse serviço de amor. “Eu sou o Pão da vida. Quem vem a mim nunca terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede” (Jo 6,35). A Eucaristia, fonte e ápice da vida cristã [15], não é só um memorial do sacrifício de Cristo, mas um chamado diário à nossa própria entrega, ao nosso próprio serviço. Ao nos alimentar do Corpo e Sangue de Cristo, somos chamados a ser, como Ele, alimento e sustento para o mundo. Somos convidados a nos dar, a ser pão para os outros, a viver esse amor radical que se traduz em gestos concretos de cuidado, de compaixão, de serviço. "Quem diria que no sangue do irmão derramado, se realiza a Eucaristia? [...] E seremos Igreja em saída pelo amor aos irmãos, pela Eucaristia" [16].
27. Queridos filhos, servir na humildade é reconhecer que tudo o que temos vem de Deus, e que, por Sua graça, somos chamados a ser Seus instrumentos no mundo. É deixar de lado o orgulho e a autossuficiência para se colocar à disposição do outro, para se aproximar do necessitado, do fraco, do marginalizado, sabendo que, ao fazer isso, estamos servindo ao próprio Jesus, “em verdade, vos digo: que, todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos, a Mim o fizestes” (Mt 25,40).
28. Em nossa vida cotidiana, em particular no orbe virtual, somos convidados a viver esse serviço com a mesma disposição de Cristo, afinal, “quem quiser ser o maior entre vós será o vosso servo” (Mt 20,27). Servir com humildade e amor é dar testemunho do Reino de Deus, vivendo a obra nova da graça e do Espírito, que ele nos oferece. "Cristo chama-vos para ser os anunciadores e as testemunhas desta verdade maravilhosa. Chama-vos a ser os apóstolos da sua paz", porque é no serviço do anúncio que encontramos a verdadeira liberdade e a verdadeira alegria, que nunca há de passar.
CAPÍTULO V:
SOB A INTERCESSÃO DE SANTA MARIA MADALENA
29. A Apóstola dos Apóstolos, Santa Maria Madalena, explica o meu venerável predecessor, Bento VI, "vem sido celebrada com grande entusiasmo pela Igreja Católica presente no Habbo Hotel anualmente, tendo em vista que no dia em que a Igreja celebra liturgicamente sua memória, foi também o dia em que Vinicius, Carlos e Victor fundaram no nosso Hotel, a Igreja do Senhor. Não crentes no acaso, mas, sim, na divina providência, consideramos o simbolismo desta feliz coincidência" [16], assim iniciou-se a Constituição Apostólica 'Apostolorum Apostola', que declarou Santa Maria Madalena como co-padroeira da Igreja do Habbo; de fato, ela é, na verdade, um modelo vivo de esperança e de serviço generoso, como Jesus, em Sua infinita bondade, nos ensinou. Ela, que foi a primeira a testemunhar a Ressurreição (cf. Jo 20, 16), não apenas experimentou a alegria da revelação, mas também, movida por essa graça, se tornou mensageira do amor do Cristo Ressuscitado, levando a boa nova aos Apóstolos e a toda a humanidade. Ela, a mulher que esteve aos pés da cruz (cf. Jo 19, 25), nos ensina que, ao permanecer com Cristo na dor, também participamos da Sua gloriosa vitória.
30. Queridos filhos, Santa Maria Madalena, com sua entrega silenciosa e ardente, é o exemplo perfeito de como o serviço à Igreja não é apenas um ato de doação, mas uma maneira de vivenciar e transmitir a esperança que nos é dada por Cristo; ela, ao ser enviada a anunciar a Ressurreição, tornou-se também testemunha de uma vida nova, uma vida que é chamada a se espalhar em todos os cantos do mundo, inclusive em nosso orbe virtual onde, recorda-nos Urbano III, onde Ele também se faz presente [18].
31. Diante disso, exorto toda a Igreja a tomar Santa Maria Madalena como intercessora e guia, valendo-nos do título de nossa co-padroeira. Que, como ela, possamos ser tocados pelo amor do Ressuscitado e transformados em instrumentos vivos da Sua mensagem. Que em cada ato de serviço, em cada palavra de anúncio, possamos ser reflexos de Cristo ao mundo, levando àqueles que nos cercam a esperança que só Ele pode dar. Com Maria Madalena, sejamos também portadores dessa alegria do encontro com o Senhor, para que, por meio de nossas vidas, todo o orbe virtual, bem como nossas relações na vida real, sejam tocados pelo Seu amor.
CAPÍTULO VI:
SOB O MATERNO OLHAR DA VIRGEM MARIA
32. "Confio inteiramente este Pontificado à intercessão materna de Maria Santíssima, Mãe da Igreja e nossa Mãe", dizia no início deste Pontificado [19]. Quando olhamos para a Santíssima Virgem Maria, a Mãe do Senhor, vemos mais do que uma simples mulher nazarena; mas uma pessoa que viveu sua vida em total entrega e confiança no plano de Deus. Desde o momento em que o Anjo Gabriel a saudou, "ave, cheia de graça, o Senhor é contigo" (Lc 1, 28), Maria se tornou o maior exemplo de fé viva, uma fé que não simplesmente crê, mas que esperançosamente se entrega completamente à vontade divina. A sua resposta ao Anjo, "eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1, 38), é a expressão máxima da confiança no plano divino, uma confiança que ressoou ao longo de toda a sua vida.
33. Maria, com sua maternidade divina, é o reflexo mais perfeito de como devemos viver a nossa relação com Deus. Ela não apenas recebeu o Verbo de Deus em seu seio, mas acolheu-o de maneira plena e irrestrita, tornando-se a primeira e perfeita discípula-missionária [20]. Em sua vida, vemos o modelo de como aceitar, com humildade e simplicidade, os desígnios de Deus, mesmo quando estes não são compreendidos plenamente. Confiar no Senhor, mesmo nos momentos de dor e de incerteza, isso a fez ser exaltada em sua glória.
34. No coração de Maria, vemos também o modelo de esperança. Ao estar aos pés da cruz, ela não cedeu ao desespero, mas permaneceu firmemente em fé, confiando que o Filho que gerara não sofrendo em vão, mas que Sua morte seria a porta para a vida eterna para todos nós. "Mulher, eis aí teu filho" (Jo 19, 26), disse Jesus, confiando-lhe o cuidado da Igreja, representada por João. Maria não só foi a Mãe do Salvador, mas também a Mãe da Igreja, e, como tal, continua a ser a nossa Mãe, intercedendo por nós diante de Seu Filho.
35. É por isso que, ao olhar para Nossa Senhora, somos chamados a seguir seu exemplo de entrega. Em nossa vida cotidiana, a Virgem nos ensina como devemos acolher a palavra de Deus, como devemos confiar em Sua vontade, mesmo quando ela parece nos conduzir por caminhos difíceis. Sua vida é um testemunho de que, mesmo nas dificuldades e nos sofrimentos, Deus está presente, guiando-nos para o bem. "Bem-aventurada aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido" (Lc 1, 45).
36. Além disso, a Santíssima Virgem é a Mãe e Estrela da Nova Evangelização, que nos guia com sua presença amorosa e discreta, mostrando que a missão de levar Cristo ao mundo não se faz com alardes, mas com a força transformadora da ternura e do serviço. Em Pentecostes, foi Ela quem reuniu os discípulos em oração, preparando-os para a vinda do Espírito Santo e para a grande explosão missionária que se seguiu (cf. At 1, 14 e At 5,12). O exemplo da grande Rainha da Paz, ilumina o caminho da Igreja evangelizadora, pois Maria viveu em total sintonia com o Espírito Santo, seu Esposo, avançando em seu caminho de fidelidade, meditando todas as coisas em seu coração (cf. Lc 2,19). Assim nos recorda o Papa Francisco, "há um estilo mariano na atividade evangelizadora da Igreja" [21], um estilo marcado pela humildade, pela proximidade e pelo cuidado amoroso com os mais necessitados. Maria é a Senhora da prontidão, que se levanta apressadamente para servir (cf. Lc 1,39), e a mulher que, em silêncio, contempla e guarda no coração os mistérios de Deus. Nela encontramos a força mansa que não precisa impor-se para ser grandiosa, e a coragem de quem acredita firmemente que Deus, de fato, faz novas todas as coisas (Ap 21,5). Exorto-vos, queridos filhos que, sob sua guia materna, sejamos todos testemunhas do amor de Cristo, levando a alegria do Evangelho a todos os corações, como novos discípulos-missionários, transformados pela experiência pessoal com Jesus Cristo, pelas mãos de sua Mãe.
37. Sob esta perspectiva, com o coração cheio de confiança na Virgem, em 4 de maio de 2020, através do meu venerável predecessor, João Paulo VI, consagramos o Habbo Hotel a Ela, em um profundo ato de confiança na Virgem em meio à pandemia que começava a se alastrar pelo mundo. "Abençoai, ó Rainha de amor e misericórdia, abençoai, defendei, salvai o vosso Brasil, o nosso Hotel e todos seus jogadores. Protegei a Santa Igreja, preservai a nossa fé, defendei o Santo Padre, assisti os nossos Bispos. Santificai o nosso clero, socorrei as nossas famílias, amparai o nosso povo, esclarecei o nosso governo, guiai a nossa gente no caminho do céu e da felicidade. Ó Senhora da Conceição Aparecida!", dizíamos com todo o fervor. Não nos esqueçamos, queridos filhos de que somos, todos, neste apostolado, consagrados à Virgem Santíssima e a ela devemos recorrer, como um filho que encontra, quotidianamente, conforto e auxílio no regaço acolhedor de sua Mãe.
CONCLUSÃO
38. Ao chegarmos ao fim desta reflexão, nossos corações se voltam ao Sagrado Coração de Jesus, onde encontramos a plenitude do amor que nos chama, sustenta e envia. Neste Coração, compreendemos que a esperança nunca decepciona, pois é sustentada pelo próprio Amor de Deus, que jamais nos abandona.
39. Somos chamados a uma vocação sublime, que nos convida a sermos testemunhas vivas do Evangelho, anunciando com coragem e ternura a Boa Nova da Ressurreição. Como Maria Madalena, queremos correr ao encontro dos irmãos e irmãs, levando a mensagem de que Cristo está vivo e caminha conosco. Como Nossa Senhora, desejamos acolher o plano de Deus com humildade e generosidade, servindo com alegria e docilidade aos seus desígnios.
40. Que possamos, dia após dia, responder com fé ao chamado do Senhor, servindo em alegria e humildade, sob a intercessão da Apóstola dos Apóstolos e sob o olhar materno daquela que nos conduz sempre ao seu Filho. No Coração Sagrado de Cristo, encontramos a força para sermos Igreja viva, ardente de amor e incansável no anúncio da misericórdia divina.
41. Ao me despedir da Cátedra de Pedro, confio estas palavras ao coração de todo o povo de Deus, entregando a Igreja presente neste orbe virtual aos cuidados da amorosa Providência Divina, que jamais nos abandona. Que Ele nos conduza sempre com ternura e fidelidade pelos caminhos da esperança, do serviço e do amor. Rezemos juntos:
Senhor Jesus,
que do Teu Sagrado Coração jorram rios de misericórdia e amor,
conduze-nos pelos caminhos da esperança que não decepciona.
Fortalece-nos em nossa vocação,
para que sejamos testemunhas fiéis do Teu Evangelho,
servindo com alegria e humildade a cada irmão e irmã.
Sob a intercessão de Santa Maria Madalena,
a Apóstola dos Apóstolos,
e sob o olhar materno de Maria, Tua e nossa Mãe,
ajuda-nos a sermos instrumentos do Teu amor,
anunciando ao mundo que Tu estás vivo e caminhas conosco.
A Ti, Jesus, toda honra e glória,
hoje e para sempre. Amém.
Dado e passado em Roma, junto a São Pedro, aos doze dias do
mês de março do ano Jubilar de 2025, último dia do meu Pontificado.
+ Lucam IV
[1] FRANCISCO, Papa. Bula de Proclamação do Jubileu Ordinário de 2025: Spes non confudit. 2024;
[2] CHAGAS, Eduardo. A religião em Feuerbach: Deus não é Deus, mas o homem/e ou a natureza divinizados;
[3] FRANCISCO, Papa. Carta Apostólica 'Desiderio Desideravi': Sobre a formação litúrgica do Povo de Deus, 4; 2022;
[4] Ibidem, 7;
[5] PAULO VI, Papa. Constituição Pastoral 'Gaudium et Spes': Sobre a situação da Igreja no mundo atual, 22; 1965;
[6] PAULO VI, Papa. Constituição Pastoral 'Lumen Gentium': Sobre a Igreja, 11; 1964;
[7] JOÃO II, Papa. Constituição Conciliar 'Salus Animarum': Sobre a Igreja no Habbo Hotel, 2019;
[8] GREGÓRIO XVII, Papa. Homilia por ocasião de sua visita ao Habbo Hotel, 2019;
[7] JOÃO PAULO VII, Papa. Constituição Conciliar 'Predicate Evangelium': Sobre a natureza eclesial da Santa Igreja no Habbo Hotel, 2021;
[10] JOÃO PAULO II. Homilia de Início de Pontificado, 1978.
[11] LAGNESE, Dom Pietro. Homilia por ocasião do início de seu ministério episcopal como Arcebispo de Cápua, 2024;
[12] AQUINO, Santo Tomás de. Suma teológica I, q. 25, a. 3, ad 3m;
[13] JOÃO DA CRUZ, São. “Carta a la M. Mª de la Encarnación”, en Vida, BAC, p. 1322.
[14] ESCRIVÁ, São Josemaría. É Cristo que passa, 111, 1974;
[15] PAULO VI, Papa. Constituição Pastoral 'Lumen Gentium': Sobre a Igreja, 11; 1964;
[16] Hino do XVIII Congresso Eucarístico Nacional, 2020;
[10] BENTO VI, Papa. Constituição Apostólica 'Apostolorum Apostola': Pela qual se declara Santa Maria Madalena como co-padroeira da Igreja do Habbo Hotel, 2023;
[18] URBANO III, Papa. Aula Magna na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, 2018;
[19] LUCAS IV, Papa. Homilia na Santa Missa para o Início do Ministério Petrino, 2025;
[20] Cf. Documento Final da V Conferência Geral do Episcopado Latino Americano e do Caribe, 288;
[21] FRANCISCO, Papa. Exortação Apostólica pós-sinodal 'Evangelii Gaudium': Sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual, 288; 2013;