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Encíclica In Persona Christi Servus | Sobre o ministério diaconal


CARTA ENCÍCLICA 
IN PERSONA CHRISTI SERVUS

DO SANTO PADRE 
 PAULO V
 AOS BISPOS
AOS PRESBÍTEROS E AOS DIÁCONOS
E A TODOS OS FIÉIS LEIGOS

SOBRE O MINISTÉRIO DIACONAL

INTRODUÇÃO

1. NA PESSOA DE CRISTO SERVO, a Igreja tem sua origem pela obra evangelizadora e na vinda do Espírito Santo. Sua missão é a evangelização, por isso, os Apóstolos estabeleceram bispos, presbíteros e diáconos para dar continuidade à tarefa de proclamar a Palavra de Deus confiada a eles e servir ao Corpo de Cristo, que é sua igreja.

2. Nesse sentido, urge refletir sobre a missão do diácono como servidor da mesa da Palavra de Deus, analisando a doação à mesa da Palavra e ao munus docendi confiado por meio de sua ordenação sacramental. Ele é o sinal sacramental de Cristo e a expressão da Igreja Servidora. Antes de analisarmos o serviço do diácono em relação à Palavra, é importante compreender o sentido de sua vocação: o serviço.

3. O diácono é chamado a refletir e personificar o próprio Cristo como servo, representando, de maneira sacramental, a humildade e o amor em meio a comunidade cristã. Compreender sua vocação como serviço é essencial para apreciar plenamente o papel que desempenha na Igreja.

CAPÍTULO I
A diaconia da comunidade cristã

4. Da "diakonia", entendemos que tal serviço permeia o ministério de Jesus e a natureza da própria Igreja. Jesus se apresenta como aquele que veio para servir: "Assim como o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate por muitos"  (Mateus 20,28). Ele é o diácono por excelência: "Pois qual é maior: quem está à mesa ou quem serve? Não é quem está à mesa? Eu, porém, estou entre vocês como aquele que serve!" (Lucas 22,27). 

5. Todas as imagens que Jesus usa para si mesmo estão cheias da noção de serviço e doação: ele é o pão, o pastor, o caminho, a videira, a luz. A diaconia é a chave para compreender a pastoral da Igreja e é a condição para todos aqueles que desejam segui-lo: "Quem quiser ser grande entre vocês, seja aquele que serve" (Mateus 20,26).

6. No entanto, no Novo Testamento, o termo "diácono" também é usado para indicar um grau na hierarquia eclesiástica, como vemos na saudação de Filipenses 1,1: "Paulo e Timóteo, servos de Jesus Cristo, a todos os santos em Cristo Jesus, que estão em Filipos, juntamente com os bispos e diáconos" e em 1 Timóteo 3,8: "Os diáconos também devem ser dignos de respeito, de uma só palavra, não inclinados ao vinho, nem ávidos de ganho desonesto".

7. Assim, naquele tempo, o diácono está como aquele que serve num contexto doméstico ou em uma celebração religiosa. Mas, sobretudo, sua missão implica em colocar-se a serviço do outro, apontando para o comportamento cristão de servir a Cristo no irmão, indicando assim a atitude de servir o Evangelho na comunidade e, mais especificamente, designando um ministério eclesial ordenado.

8. A Didaqué, um documento datado entre 60 e 100 d.C., relata que os bispos e diáconos eram escolhidos pela comunidade, evidenciando a autoridade e a importância de suas funções. Neles, reconhecia-se a capacidade de mediar e atender às necessidades dos outros, especialmente daqueles que se mostravam fragilizados. 

9. Além disso, uma condição para aceitá-los em ministério ativo era se destacarem como servidores, mediadores de conflitos e interlocutores. Esses indivíduos deveriam ser "homens mansos, desprendidos do dinheiro, verdadeiros e testados"  (Atos 6,3), comprovando assim o testemunho da comunidade que depositava confiança na diaconia e, sobretudo, assemelhando-se a Cristo Servo.

10. Como Cristo Servo, ao praticar um serviço desinteressado e demonstrar amor ao próximo, há necessidade constate de cultivar a empatia, a compaixão e o bem da comunidade. Portanto, a diaconia é fundamental para a essência da vida eclesiástica, e as diversas funções desempenhadas pelos diáconos devem ser vistas como um "serviço-doação" e não como privilégios.

11. No mais, devemos diferenciar o diaconato, que é ministério especifico e ordenado daquilo que se diz respeito à diaconia. A diaconia é um ministério de todos, que transcende papéis e posições específicas. É um convite para que cada membro da comunidade se envolva ativamente no serviço ao próximo, seguindo o exemplo de Cristo.

12. A essência da diaconia está na disposição de estender a mão, de cuidar, de amparar e de servir. Não é restrita a uma elite eclesiástica, mas abraça a participação de todos, independentemente de idade, gênero, ou habilidades.

13. Ao assumir a diaconia como um ministério de todos, a Igreja reconhece que cada ato de bondade, compaixão e ajuda mútua é uma expressão concreta do amor de Deus. 

14. Quando a comunidade se une em diaconia, se fortalece o senso de pertencimento, solidariedade e fraternidade. "O serviço é um princípio universal; ele se aplica a todos os aspectos da vida: o Estado deveria estar a serviço dos cidadãos, o político a serviço do Estado, o médico a serviço dos doentes, o professor a serviço dos alunos.”[1]

15. Assim sendo, a Igreja tem tríplice missão: o Anúncio da Palavra de Deus (kerygma-martyria), a Celebração dos Sacramentos (leiturgia) e o Serviço da Caridade (diakonia) [2]. Esses três deveres são interligados e fundamentais para a missão da Igreja. O anúncio da Palavra de Deus fortalece a fé dos fiéis, enquanto a celebração dos sacramentos nutre sua espiritualidade. E o serviço da caridade é a expressão concreta do amor de Deus na vida daqueles que creem testemunhando o Evangelho de forma concreta. 

16. A comunidade cristã é caracterizada pela diaconia, atitude fundamental do ser Igreja. Em Jesus, a atividade de servir contrasta com sua autoridade e poder como filho de Deus. Aqueles que se dedicam ao serviço são considerados maiores no Reino dos Céus. O gesto simbólico do lava-pés durante a Última Ceia é uma revolução promovida por Jesus, que nos convida a servir uns aos outros destacando que o amor e a doação são, de fato, um ato revolucionário. 

17. A diaconia da Igreja deve ser uma expressão comunitária e fraterna da diaconia de Jesus, estendendo-se a todos os membros da comunidade, praticando o serviço desinteressado e amoroso como marca distintiva da vivência cristã.

CAPÍTULO II
O homem da Palavra

18. Os Apóstolos instituíram os bispos, os presbíteros e os diáconos (Filipenses 1,1; 1 Timóteo 3,8-13) para proclamar a Boa Nova de Jesus Cristo. O mandamento de "ir por todo o mundo e pregar o Evangelho a toda criatura" (Marcos 16,15) é a base da diaconia da Igreja. 

19. O diácono é um participante dessa missão e seu papel no ensino pode ser visualizado durante a cerimônia de ordenação, quando o bispo entrega o livro dos Evangelhos ao diácono, acompanhado de uma exortação: “recebe o Evangelho de Cristo do qual foste constituído mensageiro: transforma em fé viva o que leres, ensina aquilo que creres e procura realizar o que ensinares” [3]. 

20. O diácono é, portanto, o servo da Palavra e do povo de Deus a quem ele deve anunciar a nova vida em Jesus. Pela ordenação, o dom do Espírito Santo é derramado sobre ele, conferindo-lhe um caráter sacramental indelével. Torna-se, assim, semelhante a Cristo Servo de forma sobrenatural e é capaz de representá-lo sacramentalmente na Igreja. 

21. Especificamente, ao proclamar o Evangelho, é Cristo mesmo quem fala em sua pessoa. "Como ministro ordenado, o diácono participa das três funções do sacramento da Ordem: ele é um mestre quando proclama e explica a Palavra de Deus, é um santificador quando administra os sacramentos e é um guia quando anima comunidades e a vida eclesial". [4]

CAPÍTULO III
A consagração para o serviço

"E escolheram  Estêvão,  homem  cheio  de  fé  e  do  Espírito  Santo,  Felipe, Prócoro, Nicanor, Timon, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia." (Cf. Atos 6,5) 

22. As referências tradicionais para o ministério diaconal estão presentes nos Atos dos Apóstolos, onde é descrita a seleção dos "sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria". Por volta de 180, Santo Irineu reconheceu esses "Sete" como diáconos, confirmando assim o estabelecimento de um ministério ordenado.

23. O gesto de consagração pela imposição de mãos destaca a identificação do diaconado nos Sete Primeiros. Essa expressão ritual difere de outras formas de investidura, pois é uma consagração para a missão. Os escolhidos são agraciados com uma graça especial para prestar um serviço, em resposta ao chamado da Igreja.

24. A instituição do ministério diaconal vai além de uma simples eleição para atribuir uma função. No ato de impor as mãos, ocorre uma concessão do dom do Espírito Santo, que permite exercer um "poder sagrado" (sacra potestas) [5] vindo diretamente de Cristo, por meio de Sua Igreja. Desse modo, a pastoral exercida pelos Sete e de seus sucessores está diretamente relacionada à mesma missão desempenhada pelos Apóstolos. 

25. A ordenação é um evento que combina três elementos: o chamado, a eleição e o envio. É o corpo eclesial, com sua diversidade de membros, que participa do chamado de seus ministros. Na Igreja, os ministros nunca se autoproclamaram, mas são escolhidos, eleitos e enviados.

26. No episódio relatado no livro dos Atos, os Sete foram chamados e escolhidos entre aqueles "de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria". Convocados pela Igreja, foram investidos com o poder divino por meio da imposição das mãos dos Apóstolos. Em seguida, foram enviados para servir à semelhança do Cristo Servidor. Nesse movimento de serviço, a Palavra de Deus se espalhava e o número de discípulos crescia.

27. O diácono, seguindo também o exemplo dos Sete, assume a condição de verdadeiro servidor. Sua diaconia abrange a partilha do pão que é Cristo - pobre e sofredor - bem como a partilha do Pão da Palavra. Enquanto exercia seu munus docendi, outras formas de mediação também se manifestavam, e a partilha do pão resultava em uma vida abundante tanto no corpo quanto no espírito.

28. No entanto, é crucial desassociar o diaconato de uma concepção comum que o limita apenas à caridade como sua essência e fundamento. A caridade, antes de tudo, é uma dimensão eclesial e faz parte da diaconia exercida por todos nós. Todos os batizados são chamados a viver o amor fraterno em gestos concretos. 

29. O ato de "servir às mesas" não deve restringir apenas a uma pastoral da caridade, mas envolver o exercício do munus docendi, o serviço à mesa da Palavra por meio do anúncio, da catequese e da pregação, que desde o início fazem parte integrante do ministério diaconal, como descrito nos Atos dos Apóstolos.

CAPÍTULO IV
Celebrar a Palavra

30. Constituído como mensageiro do Evangelho por meio do sacramento, o diácono tem como missão alimentar o povo com o pão da Palavra. Infelizmente, essa celebração muitas vezes é vista como uma alternativa em situações em que o presbítero não quer realizar a celebração eucarística completa, o que acaba por negligenciar a importância da celebração. 

31. É importante ressaltar que, com o Concílio Vaticano II, convocado na realidade por São João XXIII na década de 60 de nossa era, a Igreja passou a valorizar ainda mais a Palavra de Deus e sua celebração. Nesse sentido, a Igreja restabeleceu o caráter indispensável da Palavra de Deus para a fé, a pregação, a evangelização e a teologia. Essa nova compreensão também está relacionada ao ministério diaconal.

32. Assim, a presidência de uma celebração da Palavra por um diácono adquire um caráter sacramental por duas razões: a presença do diácono, configurado sacramentalmente a Cristo, garante a dimensão hierárquica que deve ser integrada à assembleia em sua dimensão carismática e segundo que a proclamação do Evangelho e a homilia feitas pelo diácono garantem que o próprio Jesus compartilhe o pão da Palavra com a assembleia que celebra. 

33. A sacramentalidade da celebração da Palavra é legítima àquela da própria celebração eucarística. Cristo está verdadeiramente presente na assembleia litúrgica, realizando o mistério da salvação, santificando os homens e manifestando, "com a própria obediência, a redenção." [6] 

34. Desse modo, a celebração da Palavra presidida por um diácono ou por um leigo, no pleno exercício de seu amor-doação, é de fato manifestação da diaconia, constituindo um momento privilegiado de encontro com o Senhor. Nesse ato litúrgico, é o próprio Cristo que, por meio da Palavra proclamada, se expressa e realiza sua obra redentora. O Cristo, enquanto Palavra anunciada, o pão da vida, é o mesmo Cristo que encarna e nutre a Igreja na Eucaristia, administrada pelo presbítero.

35. Portanto, a celebração da Palavra é um serviço prestado ao Corpo de Cristo, em Cristo e por Cristo. Assim como a Igreja venera o Corpo do Senhor, ela também venera as Sagradas Escrituras, não deixando de tomar e distribuir aos fiéis o pão da vida, tanto na mesa da Palavra de Deus como na mesa do Corpo de Cristo. 

CONCLUSÃO 

36. Os diáconos são chamados a serem servos do povo de Deus, imitando Cristo, o Servo por excelência. Através da ordenação diaconal, eles recebem a graça sacramental e são capacitados a representar Nosso Senhor sacramentalmente na comunidade.

37. A diaconia é uma expressão do amor e serviço de Cristo à sua Igreja. Todos são chamados a serem servidores da Palavra e do povo de Deus, alimentando-os com o pão da Palavra de Deus. No entanto, a ordenação diaconal confere aos diáconos um caráter sacramental indelegável, tornando-os semelhantes a pessoa de Cristo Servo. 

38. Encerro esta carta encíclica com um fervoroso pedido para que roguemos, pela intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria. Que suas orações se unam às nossas, elevando nossos pedidos ao Senhor, para que Ele envie operários para sua messe: 

Oração pelas Vocações Diaconais 
Papa Paulo V

Senhor, em tua infinita bondade e sabedoria, ouve nossa prece pelas vocações diaconais que surgem no coração de teu povo. Derrama sobre nós a luz do Espírito Santo para que possamos reconhecer e acolher aqueles que são chamados a servir-te como diáconos.

Abençoa, aqueles que sentem o chamado em seus corações para se consagrarem ao serviço da Igreja e da comunidade. Fortalece sua fé, enche-os de coragem e discernimento, e concede-lhes a graça de seguir fielmente os teus desígnios. Que esses homens, inspirados pelo exemplo de Jesus Cristo, o Servo por excelência, sejam modelos de humildade, amor e dedicação ao próximo. Capacita-os com os dons necessários para cumprir sua missão, concedendo-lhes sabedoria, compaixão e compreensão.

Por intercessão de Maria, a Mãe dos Ministros Ordenados, e de São Estevão, patrono dos diáconos, rogamos que envies operários para a tua messe. Que cada diácono seja um sinal vivo do teu amor e uma testemunha autêntica do Evangelho.

Escuta, ó Deus, nossa oração e concede-nos vocações diaconais numerosas e santas: tão numerosas que nos bastem e tão santas que sejam dignas de vosso altar, para que tua Igreja possa ser fortalecida em sua missão de serviço e evangelização. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 23 de julho de 2023, primeiro ano do meu Pontificado. 
 

PAULUS, Pp. V
PONTIFEX MAXIMUS 

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REFERÊNCIAS

[1] Quarta pregação de Quaresma – Um amor feito de atos –  do Frei Raniero Cantalamessa ao Papa e à Cúria Romana em 2011; 
[2] Cf. Bento XVI, Encícl. Deus Caritas Est, 25 de dezembro de 2005: n. 25.
[3] Cf. Pontifical, 2002, n. 238;
[4] Discurso de São João Paulo II aos participantes do Congresso dos Diáconos Permanentes da Itália;
[5] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 10;
[6] Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 3;