CARTA APOSTÓLICA “FACTIBILIS OPERA AMORIS”
SOBRE O SERVIÇO NA MESSE DA IGREJA,
Aos epíscopos e presbíteros da Igreja Católica presente no Habbo Hotel,
Caríssimos filhos, paz e bênção por parte de nosso Senhor.
PROÊMIO
2. A expressão maior do Deus por nós é o seu cuidado amoroso, e também nós o fazemos. O cuidado divino e expressivo na Igreja memora à dignidade de Cristo. O acolhimento e celebração da disciplina trazem o caráter verídico do agente (cf. Prov. 10, 17). É assim que o amor de Deus participa do fazer com que o fruto permaneça, pois, o amor a Deus é a fonte de toda obediência (cf. Jo. 3, 16; I Jo. 3, 16; Jo. 6).
O SERVIÇO DILIGENTE E OBEDIENTE
4. Pode, talvez, suceder que a diligência encarregue os agentes a se submeterem ou se escusarem de suas vontades, mostrando a face benevolente que Cristo dá exemplo (cf. Lc. 6, 29). Toda benevolência visa ao bem da Igreja. Ao se expressar benevolência, tem-se como propósito de amar o irmão e cuidar dele para que se desenvolva e deixe para trás o que não ajunta, mas, sim, dissipa o bom trabalho. Esta expressão do ágape (amor benevolente) é a renúncia a si mesmo (caritas): eis a obediência como expressão filial dos entes nela unidos. Amor é alteridade.
5. Esta expressão filial expressa, também, a mais verdadeira relação com Deus e com seu desígnio, pois se crê, assim, que este é perfeito e aprazível. Crer na vontade de Deus expressa confiança na sua perfeição, e faz o homem ser descrito como “um homem segundo o meu coração, porque cumpriu todas as minhas vontades” (At. 13, 22). Nosso Senhor ressalta a submissão à vontade divina e pastoral de Davi, atribuindo-lhe o predicado de ser um homem segundo o seu coração (cf. Sl. 57, 8).
6. Porém, àqueles que se recusam à diligência, expressando, assim, o desamor à vontade de Deus e ao serviço da sua messe, submetendo-se aos arbítrios dos homens, e causando a si e aos outros tamanha impiedade, é retrato da insensatez. “Aquele que ama a correção ama a ciência, mas o que detesta a reprimenda é um insensato” (Prov. 12, 1). Do mesmo modo, aquele que não sabe ouvir, saber trabalhar e não atende à correção é certamente apartado da admoestação de São Pedro: “"Antes de tudo, mantende entre vós uma ardente caridade, porque a caridade cobre a multidão dos pecados" (I Pe. 4, 8).
7. Um serviço diligente e obediente é movimento de libertação daquilo que pestaneja e retarda o crescimento. Esta liberdade exercida através do serviço fundamentará a constituição digna de alguém, que não pode se dizer verdadeiramente servo de Cristo se não souber escutar e atender ao desígnio divino e à mediação. “Longe de diminuir a dignidade da pessoa humana, leva-a à maturidade, aumentando a liberdade dos filhos de Deus” (Decr. Perfectae Caritatis, 14).
8. Tudo isso será frutuoso e bem vivido se a vontade de Deus permanecer viva e constante nos corações. “A você (...) se dirige agora a minha palavra; a você que, renunciando à própria vontade para militar por Cristo Senhor, verdadeiro rei, toma sobre si as fortíssimas e gloriosas armas da obediência. ” (Regra de São Bento, Prólogo, n. 3).
O SERVIÇO CARIDOSO
10. Desse mesmo modo, a caridade cristã exercida entre o clero e todo povo de Deus é uma expressão do carisma cristão. O serviço eclesial envolve toda sorte de ações práticas unidas ao amor de Deus, como é a expressão de São Paulo: “ainda que eu distribua todos os meus bens em esmolas e entregue o meu corpo a fim de ser queimado, se não tiver caridade, de nada me aproveita” (I Cor. 13, 3).
11. O amor de Cristo deve constranger (cf. II Cor. 5, 14) a todos para que possam desempenhar uma boa obra na Igreja, suportando as mazelas e confiando na providência divina. Não é a humilhação ou ameaça que unir os irmãos, mas, sim, o amor e o sofrimento que vem dele. O agir em amor pode causar sofrimento, mas este deve ser contrário à tentação do desânimo e deve, em verdade, trazer o testemunho que requer o Senhor. Sem serviço diligente e sem caridade, “somos servos inúteis” (Lc. 17, 10).
13. Para aceder à prática do serviço caridoso, os irmãos devem procurar o retempero em Deus: é necessária verdadeira piedade e disciplina, que faz com que o Pai ouça aos apelos e pedidos do filho. Reencontrar-se no Pai, no coração, este “santuário no qual o homem se encontra a sós com Deus e onde sua voz de faz ouvir” (Const. Past. Gaudium et Spes, 16).
CONCLUSÃO
15. Os perigos que decorrem da falta da diligência, obediência e do amor são visíveis, dão testemunho de si mesmos. O individualismo “que se concebe então unicamente como indivíduo concentrado sobre si mesmo e sobre seu próprio bem, que se considera, também, alheiamente do bem dos demais e da comunidade (...) Do ponto de vista do individualismo, atuar ‘junto com os outros’, o mesmo que existir ‘junto com os outros, é uma necessidade a qual o indivíduo tem que se submeter, uma necessidade que não corresponde à alguma de suas propriedades positivas; tampouco o atuar e existir junto com os outros servem ou desenvolvem nenhuma das propriedades positivas do indivíduo”. (Pessoa e Ação, Karol Wojtyla p. 321-322).
16. Da mesma forma o coletivismo vê no homem uma característica social tal que somente em coletividade se poderia afirmar o valor de si. A dignidade do homem, que é necessária para executar o trabalho da caridade, e submeter-se à disciplina da diligência e obediência, torna-se fundada, ou melhor, reduzida, na condição de uma simples parte ou aspecto do todo que consiste o coletivo.
17. Porém, o ato cristão fundamental não reside no indivíduo considerado em si e somente no seu prazer, nem tampouco na coletividade enquanto ela mesma. São formidáveis abstrações que alheiam o homem da verdadeira vontade de Deus: o bem ao outro e a justiça como caridade.
18. Queira Deus inspirar aos corações e advertir particularmente a todos os quais esta missiva é encaminhada a fim de que possam compreender o valor da diligência, da obediência e da caridade. Sem a firmeza nisto, se cairá em erros malignos e no desânimo que espalha o rebanho do Senhor.
Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 21 de agosto – memória de São Pio X – de 2021, primeiro ano do meu Pontificado.
+INOCENTIUS, Pp. VI
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