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Carta encílica "Divina Revelationes" | Sobre a Revelação Divina e sua transmissão no Habbo Hotel

 
CARTA ENCÍCLICA
DIVINA REVELATIONES
 
DO SANTO PADRE
GREGÓRIO IV
 
AOS BISPOS
AOS PRESBÍTEROS E AOS DIÁCONOS
ÀS PESSOAS CONSAGRADAS
E A TODOS OS FIÉIS LEIGOS

SOBRE A REVELAÇÃO DIVINA
E SUA TRANSMISSÃO NO HABBO HOTEL
 
PROÊMIO
 
1. A Divina Revelação é comunicação entre Deus e os seres humanos. Os concílios de Trento, Vaticano I e Vaticano II debruçaram-se largamente sobre o tema da Divina Revelação e sobre sua transmissão, de modo que a longa discussão de séculos culminou na Constituição Dogmática Dei Verbum do Concílio Vaticano II. De fato, naquele santo sínodo, os Bispos da Igreja reafirmaram a fé da Igreja sobre a Revelação Divina.
 
2. Por meio desta carta encíclica sobre a Revelação Divina e sua transmissão no Habbo Hotel, desejo, não propor um longo tratado teológico, mas, antes, propor um itinerário de renovação dos métodos de anúncio da Salvação, do Evangelho de Jesus Cristo, a partir da compreensão deste Deus que se dá a conhecer, que quer ser conhecido, e que temos o dever cristão de leva-lo a ser conhecido.
 
I. A DIVINA REVELAÇÃO
 
3. Não podemos partir de outra definição da Divina Revelação a não ser aquela dada dogmaticamente pelo Concílio Vaticano II: “Aprouve a Deus. na sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade (cf. Ef. 1,9), segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina (cf. Ef. 2,18; 2 Ped. 1,4). Em virtude desta revelação, Deus invisível (cf. Col. 1,15; 1 Tim. 1,17), na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos (cf. Ex. 33, 11; Jo. 15,1415) e convive com eles (cf. Br. 3,38), para os convidar e admitir à comunhão com Ele. Esta ‘economia’ da revelação realiza-se por meio de ações e palavras intimamente relacionadas entre si, de tal maneira que as obras, realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as obras e esclarecem o mistério nelas contido. Porém, a verdade profunda tanto a respeito de Deus como a respeito da salvação dos homens, manifestasse-nos, por esta revelação, em Cristo, que é, simultaneamente, o mediador e a plenitude de toda a revelação” [1].
 
4. De fato, Cristo é o Revelador do Pai e comunicador do Espírito Santo. E, Jesus Cristo efetua sua revelação por meio de palavras e de ações. Assim, coloca-nos diante de uma realidade ao mesmo tempo transcendente e imanente. Porque as palavras por mais que sejam capazes de expressar o mistério de Deus, são incapazes de esgotá-lo. Deus, grande mistério que se abre à história humana. Mas lembremos sempre que este mistério é o mistério escondido que se revela como inesgotável. Esse mistério, quando se revela, continua mostrando que há muito mais a se revelar do que aquilo que já foi revelado [2], ou seja, o mistério não é aquilo que não conhecemos; o mistério de Deus é àquilo que se revela a nós, que se deixa ser conhecido, e que ao se revelar, revela que há muito mais a ser revelado, porque este mistério é inexaurível, inesgotável [3].
 
5. Não podemos perder de vista que Deus é o escondido e o revelado. E neste processo de conhecimento percebemos que há coisas compreensíveis e coisas incompreensíveis e no que é incompreensível, deve preponderar a nossa genuflexão, ou seja, a nossa atitude de adoração. Vamos conhecendo a Deus até percebermos de fato que Ele nos é incompreensível. De fato, nós compreendemos essa incompreensibilidade de Deus quando pensamos que Deus é único. É esse Deus único que se dá a conhecer nas várias etapas e de um modo pedagógico, na revelação sendo o único Deus no Antigo Testamento e que se revela plenamente em Jesus Cristo. O que nos parece muito difícil de entender, pois de um lado nos aparece um Deus muito justo e do outro revela toda a sua misericórdia [4].
 
6. Como nos ensina a Sagrada Escritura, “os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra de suas mãos” (Sl 19,1). Portanto, a linguagem religiosa deve ser sempre atualizada para falar do mesmo mistério, pois a hermenêutica teológica não dissolve a mensagem evangélica na cultura, mas traduz sua significação para a vida atual. Como diz o Apóstolo Paulo: “Pois o que se pode conhecer de Deus é manifesto entre eles, porque Deus lho manifestou. Desde a criação do mundo, as suas perfeições invisíveis – o seu eterno poder e a sua divindade – são visíveis, sendo compreendidas por meio das coisas criadas” (Rm 1,19-20).
 
II. REVELAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO
 
7. No Antigo Testamento, vemos uma dialética fundamental entre o “Deus misterioso” (El') e o “Deus revelado” aos patriarcas. A teologia do Êxodo e da Aliança proclama a adoração a um só Deus, a fidelidade a ele e a libertação histórica, apontando para a transcendência necessária à experiência religiosa, e a imanência, ou seja, a realidade concreta, da salvação. Como diz o Salmo 103: “O Senhor é misericordioso e compassivo, longânime e muito benevolente. Não nos trata conforme os nossos pecados, nem nos pune conforme as nossas culpas.” (Sl 103,8-10)
 
8. No Antigo Testamento, nós já temos muitos relatos dos patriarcas e dos profetas fazendo experiências da Revelação de Deus. Deus se dá a conhecer, em primeiro lugar, a Adão e Eva (Gn 2-3), nossos primeiros pais. Deus se dá a conhecer a Noé (Gn 6-9) quando lhe ordena construir a arca para que haja a purificação da Terra. Deus se dá a conhecer a Abraão (Gn 12-25), ao qual faz a sua Aliança (Gn 15). É Abraão quem estava embaixo do Carvalho de Mambré (Gn 18), quando se aproximam os 3 homens, representação já da Santíssima Trindade, e param para ficar ali. E é quando há a promessa de uma terra e uma descendência para Abraão (Gn 12,1-3). É assim que Abraão sai de Ur da Caldeia e vai até Canaã (Gn 12,1). É também aí que tem o primeiro filho com a escrava Hagar, o filho Ismael (Gn 16), e depois consegue finalmente ter o filho com Sara, o filho da promessa Isaac (Gn 21). E é de Isaac que nasce Jacó (Gn 25), do qual nasce José (Gn 30). E José é aquele que desce para o Egito (Gn 37-50) num tempo onde Canaã passa por uma experiência de grande pobreza. E no Egito, Deus é experimentado por Moisés (Ex 3-4). E então o povo de Deus passa a viver uma experiência totalmente nova com esse seu Deus. Deus é o libertador. Deus é aquele que os tirou do Egito das mãos do faraó (Ex12-15), que os fez passar pelo mar (Ex 14), que os alimentou no deserto (Ex 16) e que lhes deu a lei (Ex 20). A Moisés, Deus se revela como “Eu sou” (Ex 3,14). “Eu sou”, quer dizer, eu sou aquele que é, que era e que serei. Eu sou: É a presença de Deus no meio do seu povo. É um Deus que caminha com o seu povo. É um Deus que se faz presente na história do seu povo. É esta experiência de Deus que faz Israel no Santo dos Santos (1 Rs 6-8), na Arca da Aliança (Ex 25), na tenda da reunião (Ex 33) e depois no templo no período da monarquia (1 Rs 6-8). Mas o povo de Israel também faz a experiência da ausência de Deus. Esta experiência é muito clara no exílio (2 Rs 25, Jr 52) [5].

9. Nessa perspectiva, o anúncio dos profetas afirma que Deus é o Senhor de todas as nações, julgando a história humana com Sua santidade e justiça (cf. Is 6,3; Am 5,24). Assim, os profetas clamam por uma profunda restauração religiosa e renovação ética, social e pessoal, pois somente uma nova Aliança poderá realizar a vontade divina (cf. Jr 31,31-34).
 
10. É no exílio da Babilônia, que o povo sente a ausência de Deus. É na Babilônia que se sentem as consequências do pecado, a consequência da infidelidade, a consequência da idolatria que tinha Israel (Ez 8-11). Por que a idolatria? Pois o ídolo não tem valor em si mesmo, o ídolo é aquele ao qual o fiel concede um valor, concede um poder que o próprio ídolo não tem (Is 44,9-20). Aqueles que praticam a idolatria abandonam a Deus, e é por isso que Deus diz por meio do profeta Amós (Am 5,21-27) que o povo irá perder tudo aquilo que lhe foi dado pelos ídolos e que Deus lhe restituirá alguma coisa maior, mas para isso, a experiência necessária do povo de Deus é a experiência do exílio. Mas essa experiência do exílio também passa a ser uma experiência de amor. Quando o povo volta para a Terra (Ed, Ne) e lá restabelece o templo (Ed 3-6), lá sente-se novamente amado por Deus. Lá faz a experiência com a palavra de Deus (Ne 8) [6].
 
11. No período pós-exílico, Israel vivencia uma restauração religiosa, com a reconstrução do Templo e a renovação da Aliança. Nesse contexto, a experiência religiosa acentua a consideração de Deus como o Altíssimo Senhor dos Exércitos, o Rei universal (cf. Sl 47,2-3). Esse universalismo corresponde a um movimento de personalismo religioso, em que Deus se revela próximo a cada indivíduo.
 
12. Ao mesmo tempo, a teologia apocalíptica-sapiencial, identifica o temor a Deus com o conhecimento prático de Sua realidade e vontade, sem esquecer a dimensão contemplativa da experiência de fé (cf. Pr 1,7; Jó 28,28).
 
III. REVELAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO
 
13. No horizonte do Novo Testamento, compreendemos a experiência cristã da revelação na pessoa de Jesus Cristo. Ele anuncia o Deus do Reino, o Deus “dos Pais” e da “Aliança”, como Pai manifestado em Sua singular consciência filial (cf. Mt 6,9-13; Lc 11,2-4). O Evangelho de Jesus proclama o Reino de Deus, Senhor único e exclusivo, cuja justiça e misericórdia devemos buscar (cf. Mc 1,15; Mt 6,33).
 
14. Ele, que era Deus, relaciona-se intimamente com o Pai (Jo 1,1-18). É ele quem nos ensina a fazer a experiência de Deus, um Deus amoroso (Jo 3,16), um Deus misericordioso (Lc 15,11-32), um Deus que se dá a conhecer (Jo 14,6-11). Um Deus que se entrega (Mc 15,33-41). Um Deus que ama (1 Jo 4,8-10). Ama, é misericordioso, se entrega, justamente porque isso é parte da sua própria natureza (Rm 5,6-8). É este Deus que Jesus Cristo nos ensina a chamar Pai (Mt 6,9-13) [7].
 
15. As grandes teologias neotestamentárias tematizam a convicção da plenitude da revelação em Jesus Cristo, o cumprimento das promessas divinas. A experiência religiosa cristã é feita na fé das comunidades, fundamentada na esperança da teologia da ressurreição, confiando no Deus da ressurreição, Pai onipotente de Jesus (cf. 1Cor 15,20-28; Rm 8,31-39). A mensagem evangélica sobre a salvação enfatiza que Deus é transcendente e pessoal. Ele é todo-poderoso e o ser humano o busca. Deus prepara as pessoas para ouvirem a mensagem surpreendente da salvação escatológica, revelada em Jesus Cristo (Rm 1,19-20; 1Cor 1,18-25).

16. Na teologia paulina, Deus pode ser conhecido através da criação ou da consciência moral, de modo que o querigma se torna instrumento de mediação do conhecimento da realidade divina em Sua identidade trinitária (cf. Rm 1,19-20; 1Cor 13,12).
 
17. Na comunidade joanina, o verdadeiro conhecimento de Deus é mediado pela ação reveladora de Jesus, Palavra eterna do Pai, e pela ação do Espírito Santo. Jesus é o Filho predileto do Pai e pastor escatológico do rebanho dos crentes, de modo que o conhecimento de Deus requer a prática da caridade fraterna (cf. Jo 1,1-18; 1Jo 4,7-12).
 
18. Na apocalíptica cristã, Deus é eterno e onipotente, o Eterno Vivente, primeiro e último, que fará uma Aliança definitiva com Seu povo eleito (cf. Ap 1,8; 21,1-5).
 
IV. REVELAÇÃO NA TRADIÇÃO
 
19. Não poderíamos, simplesmente, passar da teologia da Divina Revelação presente no Novo Testamento, diretamente para a transmissão em nossa realidade no Habbo Hotel. A Tradição é, também, Revelação, e transmissora da Revelação, sem a qual qualquer Evangelização beira o fundamentalismo bíblico. Pois, de fato, “os Apóstolos, transmitindo o que eles mesmos receberam, advertem os fiéis a que observem as tradições que tinham aprendido quer por palavras quer por escrito (cf. 2 Tes. 2,15), e a que lutem pela fé recebida dama vez para sempre (cfr Jd. 3). Esta tradição apostólica progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo. Afirmações dos santos Padres testemunham a presença vivificadora desta Tradição, cujas riquezas entram na prática e na vida da Igreja crente e orante. A sagrada Tradição, portanto, e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas e compenetradas entre si.” [7].
 
20. A teologia cristã, largamente desenvolvida na tradição dogmática da Igreja, surge da combinação da mensagem profética judaica e da filosofia grega. A patrística desenvolveu a noção de Deus, usando conceitos filosóficos gregos, mas rejeitando o gnosticismo e dualismo presentes na filosofia.
 
21. Na teologia escolástica, com a influência da filosofia aristotélica, a teologia escolástica desenvolveu uma abordagem dedutiva para compreender Deus, usando a analogia do ser para chegar ao Infinito a partir do finito.
 
22. Porém, quando a razão autônoma da ciência moderna se confronta com a fé revelada, a teologia pareceu se dissolver em um panteísmo filosófico. Neste contexto, o fideísmo cristão considera difícil afirmar o Infinito a partir do finito.
 
23. Surge então uma nova teologia, que se constrói a partir da filosofia moderna e contemporânea, que não tanto busca dar respostas apologéticas a outros, mas, pensar sobre si mesma, conciliando as tensões existentes em seu próprio sistema. Esta teologia está construída ao mesmo tempo sobre o imanente e o transcendente, numa linguagem que é ao mesmo tempo apofática e catafática. Ela não busca mais concluir e por um ponto final em todos os assuntos, mas, diante do inesgotável mistério que é seu objeto de estudo, contenta-se em analisar um lado do poliedro da Revelação Divina, sem dar respostas prontas que possam ser reduzidas em “sim” ou “não” para perguntas que sejam simples ou complexas. Caminham juntas, portanto, a diferença e a semelhança, a afirmação e a negação, o inexplicável e o explicável.
 
V. A TRANSMISSÃO DA TRADICÃO NO HABBO HOTEL
 
24. O Deus que se revelou ao longo da história da Salvação, o Deus da Aliança, Deus que se encarna na plenitude dos tempos, continua a se revelar nas vicissitudes dos tempos, de modo que “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração” [8].
 
25. Deus se encarnou e entrou na história humana. Por isso, toda a história humana é também história da salvação, de modo que não se pode distinguir uma história sagrada e uma história profana, um perigo que incorreria rapidamente na heresia do maniqueísmo. Deus permeia a história humana. Ou, na linguagem do livro do gênesis, Deus habita a criação. Nossa história, portanto, está permeada pela presença de Deus. E é nessa história encarnada, que a Igreja é enviada pelo seu Senhor e Mestre: “Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt 28, 19-20).
 
26. De fato, “ainda nós somos o povo da Aliança. Um povo que Deus não se esquece. Um povo ao qual Deus continua se revelando. Sim, a revelação fundante acabou na morte do último dos apóstolos. De lá para cá, nada de novo há de se revelar. Mas, Deus continua se revelando. Se não fosse assim, nós estaríamos condicionando a Deus. Ele é infinito, ele é inexaurível, ele é inefável. Por isso, continua se revelando, e nós precisamos perceber a sua ação na história humana para podermos agir na história como povo da Nova Aliança, da Aliança em Jesus Cristo” [9].
 
A Revelação na celebração litúrgica
27. A celebração dos sacramentos, e de modo especial da Eucaristia, é o principal lugar de encontro da pessoa presente no Habbo Hotel com a Divina Revelação. De fato, compreendemos que “embora a pregação primeira seja necessariamente da Palavra de Deus, a celebração dos sacramentos, mesmo que virtualmente, favorece o encontro da comunidade reunida que apresenta ao Pai suas preces e o louva em espírito e verdade, alimentando a fé e fazendo-a crescer no encontro com o anúncio do Senhor Ressuscitado” [10]. Por isso, um cuidado especial deve-se ter com a leitura da Palavra de Deus e com a homilia.
 
28. Por um lado, a leitura da Palavra de Deus deve ser valorizada. Passados os idos tempos em que era habitual de alguns clérigos pularem trechos da Palavra de Deus – o que pode, sim, ser feito caso o texto apresente mensagem de mute – chegamos à proclamação plena dos textos bíblicos. Mas, não basta que o leitor proclame, é preciso que a pessoa por trás da tela os leia. Talvez esse seja o nosso único contato diário com a Palavra de Deus. Talvez o seja para os nossos interlocutores eclesiais. É tão feio e triste quando o leitor encerra a leitura bíblica e percebemos que a maioria dos presentes não estava atenta. Mesmo um texto bíblico já muito conhecido, pode sempre nos querer dizer algo novo, porque “a palavra que sair de minha boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi ao enviá-la” (Is 55, 11).
 
29. Recomendo, vivamente, que nas celebrações litúrgicas, priorize-se leigos para a leitura da Palavra de Deus, exceto o Evangelho. Ou, então, que sejam clérigos não concelebrantes, ou por um dos diáconos, se houverem vários. Em último caso, combine-se entre os concelebrantes de modo que entre os leitores, os de menor grau hierárquico se responsabilizem pelas leituras que precedem o Evangelho e os de maior grau hierárquico pelo Evangelho. Não se reduz, deste modo, a importância nem do que proclama e nem da Palavra proclamada, por outro lado, eleva-se e destaca-se o Evangelho como cume da Liturgia da Palavra.
 
A homilia
30. Por outro lado, “a homilia, que é a exposição dos mistérios da fé e das normas da vida cristã no decurso do ano litúrgico e a partir do texto sagrado, é muito para recomendar, como parte da própria Liturgia; não deve omitir-se, sem motivo grave, nas missas dos domingos e festas de preceito, concorridas pelo povo.” [11]. Mas, corremos o risco de cairmos em homilias, que deveriam ser eco, em homilias vazias. Em primeiro lugar, a homilia só faz sentido na missa celebrada com o povo, sejam leigos ou clérigos. E a homilia deve ser atentamente lida pelos participantes da assembleia eucarística. Para isso, cuide o homiliasta de prepará-la antes, escrevendo-a antes sempre que possível, mas, sem deixar de acrescentar ou remover alguns trechos, sempre atento as reações da assembleia. Algumas vezes, a homilia pode falar muito mais em cinco linhas bem escritas e profundas, do que num longo sermão. O sermão, a pregação puramente moralista ou doutrinadora e a que se transforma numa lição de exegese reduzem a comunicação entre os corações que deveria haver na homilia [12].
 
31. A homilia, também, portanto, não se prolongue mais do que o necessário. Nunca se irá abordar tudo numa única homilia. Para a preparação da homilia, é necessário sempre que se opte por algum caminho para tal. Pode-se até trazer elementos exegéticos, da tradição e da moral. Mas, sobretudo, a homilia deve falar ao coração. E justamente, “falar com o coração implica mantê-lo não só ardente, mas também iluminado pela integridade da Revelação e pelo caminho que essa Palavra percorreu no coração da Igreja e do nosso povo fiel ao longo da sua história” [13]. Deste modo, não se pode prescindir, ou seja, não pode deixar de lado, a Divina Revelação na Escritura e na Tradição. É sobre a Revelação Divina que versa a homilia, é sua base, e é a mensagem que deve ser atualizada. Mas, reforço que do mesmo modo que na compreensão do mistério que já nos referimos anteriormente, a homilia não tem a intenção de esgotar toda a reflexão possível. Sempre se opte por um caminho, um tema, para uma homilia que tenha começo, meio e fim, e assim, com uma construção lógica, alcance o coração e a razão, isto é, de fato comunique.
 
32. A homilia é o principal modo de transmissão da Divina Revelação da Igreja no Habbo Hotel. Não só deve transmitir as verdades contidas na Revelação, mas, também atualizá-la para cada comunidade reunida, em cada contexto, e sempre a partir dos sinais dos tempos, esperanças e aspirações de cada um, conforme se disse anteriormente na citação da Constituição Pastoral Gaudium et Spes. Isso só se faz, em primeiro lugar, a partir da presença na própria realidade. Uma homilia muito abstrata, corre o risco de não atingir o coração, deste modo “devem-se evitar tanto homilias genéricas e abstratas que ocultam a simplicidade da Palavra de Deus, como inúteis divagações que ameaçam atrair a atenção mais para o pregador do que para o coração da mensagem evangélica. Por isso, é preciso que os pregadores tenham familiaridade e contato assíduo com o texto sagrado; preparem-se para a homilia na meditação e na oração, a fim de pregarem com convicção e paixão.” [14].
 
A missão
33. A Revelação Divina é transmitida, ainda, por meio da missão ad gentes, quando os clérigos, religiosos e leigos, saem pelos quartos anunciando Jesus Cristo. Este anúncio, tantas vezes esquecido, é fundamental para missão eclesial. Por isso, não se esqueça o Dicastério para a Evangelização, as Igrejas Particulares, e as famílias religiosas, de promoverem missões com certa periodicidade, sem as quais, a Igreja não realiza sua missão em plenitude. Mas, antes de simplesmente sair gritando aos quatro cantos, não se esqueçam os missionários que Deus se propõe, não se impõe a ninguém. Deus se revela, e espera a resposta livre de cada pessoa.
 
Revelação nos sinais dos tempos
34. É sempre inviável conceber a missão da Igreja de ser transmissora desta Revelação, de ser também ela reveladora e mestra, sem antes compreender o contexto na qual está inserida. Deste modo, entendemos que “para levar a cabo esta missão, é dever da Igreja investigar a todo o momento os sinais dos tempos, e interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo adaptado em cada geração, às eternas perguntas dos homens acerca do sentido da vida presente e da futura, e da relação entre ambas. É, por isso, necessário conhecer e compreender o mundo em que vivemos, as suas esperanças e aspirações, e o seu carácter tantas vezes dramático.” [9].
 
35. A missão de interpretar os sinais dos tempos, faz parte da transmissão da revelação de Deus. Em sua visita a Auschwitz-Birkenau, Bento XVI, como alemão, teve também a sensibilidade de, na concretude daquele lugar, afirmar: “Quantas perguntas surgem neste lugar! Sobressai sempre de novo a pergunta: Onde Deus naqueles dias? Por que Ele silenciou? Como pôde tolerar este excesso de destruição estava, este triunfo do mal? Vêm à nossa mente as palavras do Salmo 44, a lamentação de Israel que sofre: “... Tu nos esmagaste na região das feras e nos envolveste em profundas trevas... por causa de ti, estamos todos os dias expostos à morte; tratam-nos como ovelhas para o matadouro. Desperta, Senhor, por que dormes? Desperta e não nos rejeites para sempre! Por que escondes a tua face e te esqueces da nossa miséria e tribulação? A nossa alma está prostrada no pó, e o nosso corpo colado à terra. Levanta-te! Vem em nosso auxílio; salva-nos, pela tua bondade!” (Sl 44, 20.23-27). Este grito de angústia que Israel sofredor eleva a Deus em períodos de extrema tribulação, é ao mesmo tempo um grito de ajuda de todos os que, ao longo da história ontem, hoje e amanhã sofrem por amor de Deus, por amor da verdade e do bem; e há muitos, também hoje.” [16]. Aqui temos um exemplo de releitura da revelação a partir dos sinais dos tempos, a partir da concretude de cada situação.
 
36. Fala-se da concretude de cada situação no macro, mas, também no micro. A comunicação de Deus é com cada pessoa. Por isso, nossa missão deve, também, ter um caráter pessoal, a cada pessoa. Pessoa, que, sim, por ser pessoa – e não meramente um indivíduo – está em relação, está em comunidade. Mas, ao mesmo tempo, que está voltada à exterioridade, está voltada à sua interioridade. E é com esta interioridade com a qual tantas vezes precisamos nos comunicar. Falarmos sobre Deus a partir da realidade de cada pessoa, a partir daquelas situações concretas, que são os sinais dos tempos também na sua vida, ajudando-os a entender a comunicação, a revelação de Deus, na concretude daquelas situações.
 
37. No Habbo Hotel, encontramos diversas pessoas. Cada pessoa está inserida num contexto diferente. A todas elas devemos encontrar e comunicar Deus. Mas, de modo especial e preferencial, devemos encontrar e nos comunicar com os que sofrem nas periferias sociais e existenciais. Considerarmos o Habbo Hotel, mesmo em sua baixa, com um terreno de missão nos exige maturidade. Maturidade para lidarmos com pessoas que podem sofrer de diversos males, e, de modo especial, da ansiedade e da depressão, que são os grandes problemas de nosso tempo. Nossa palavra, aí, deve ser profética, carinhosa e cheia de esperança. O que é impossível sem imersão na realidade do outro que recebe o anúncio da Palavra de Deus. Nestes casos, o anúncio da comunhão com Deus pode ocorrer muito mais de modo implícito do que explícito. O importante é não construirmos muralhas e reduzirmos nossa missão. De fato, a própria missão de Jesus Cristo é trazer vida, e vida em plenitude (cf. Jo 10, 10). Precisamos entender que mesmo aí – e talvez sobretudo aí – junto aos pobres, aos que vivem nas periferias sociais e existenciais, Deus se revela. Se revela a nós por meio do outro, e se revela ao outro por meio de nós, de modo que Jesus Cristo ao mesmo tempo se identifica com o Bom Samaritano (cf. Lc 10, 25-30) e com aquele que estava a beira do caminho, o pobre, o nu, o faminto, o sedento, o prisioneiro (cf. Mt 25, 45).
 
CONCLUSÃO
 
38. Cada vez mais, urge para nós a necessidade de levarmos a sério nossa missão. Como disse recentemente, “que a Igreja de Jesus tenha poucos membros, não há problema. Problema é se formos insignificantes. Se nossa palavra, que é a Palavra, não tiver mais eficácia no mundo, na sociedade, não for transformadora e renovadora.” [17]. Não podemos deixar que se reduza à insignificância nossa missão no Habbo Hotel. Que venham diminuído o número de jogadores, e, por consequência, o número de clérigos, é um dado inegável. Por outro lado, talvez nunca antes tenhamos tido um clero tão interessado com seriedade nas coisas da Igreja. Assim, não só se alegra meu coração como Sumo Pontífice com aqueles que levam a cabo com seriedade a sua missão, a ponto de desejar, por esta carta encíclica instruí-los, mas também, creio que se alegra Deus com nosso bom propósito.
 
39. Diante do Deus que se revela, nossa primeira postura deve sempre ser de parar, tirar as sandálias dos pés (cf. Ex 3, 5), e colocarmo-nos de joelhos diante do mistério revelado. Depois, fazemos com que outros conheçam também este mistério que é Deus. Deus é Deus-mistério. Se nunca perdermos isso de vista não aprisionaremos Deus, não o colocaremos em nossas caixinhas pensando que sabemos tudo, que compreendemos tudo, que somos os detentores dos planos e projetos salvíficos de Deus. O que sabemos e cremos firmemente é aquilo que ele nos revelou, e a Igreja é aquela que guarda com fidelidade e interpreta autenticamente [18] esta revelação. Diante disso, a proclamação da Palavra de Deus, sua atualização, explicação e releitura, mediante a tradição, que junto com a Palavra é Revelação Divina, deve alcançar o coração de cada pessoa. Para isto, os sinais dos tempos, nos ajudam a comunicar, de fato, Deus a cada coração, sem o medo das tensões existentes na realidade.
 
40. Possa Deus, nosso Senhor, mistério inefável de amor, àquele que divinamente se revela a nós, nos inspirar para compreendermos sua Revelação. E que a Virgem Maria, que guardava todas as coisas e as meditava no seu coração (cf. Lc 2, 19), nos ajude a abrirmos nossos ouvidos para recebermos o que Deus nos fala, os olhos para contemplá-lo em extasiada oração, a boca para anunciar aos outros este mesmo mistério, os braços e as mãos, para resgatarmos, acolhermos, abraçarmos e tocarmos cada situação em que ainda não se percebeu a Revelação, a ação, a presença de Deus. Assim, cumpriremos a missão da Igreja, revelando em todos os lugares que Deus aí se comunica conosco, que Deus aí está!
 
Roma, junto a São Pedro, décimo oitavo dia do mês de maio do Ano do Senhor de dois mil e vinte e quatro, primeiro de Nosso pontificado.
 
+ Gregório IV
 
[1] Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum;
[2] Papa Gregório IV, Audiência Geral de 23 de abril de 2024;
[3] Papa Gregório IV, Homilia da Solenidade da Santíssima Trindade, 26 de maio de 2024;
[4] Papa Gregório IV, Audiência Geral de 23 de abril de 2024;
[5] Papa Gregório IV, Audiência Geral de 17 de abril de 2024;
[6] Idem;
[7] Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum;
[8] Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral Gaudium et Spes;
[9] Papa Gregório IV, Audiência Geral de 23 de abril de 2024;
[10] Concílio de Jerusalém, Constituição Conciliar Predicate Evangelium;
[11] Concílio Vaticano II, Constituição Conciliar Sacrossanctum Concilium;
[12] Papa Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium;
[13] Idem;
[14] Papa Bento XVI, Exortação Apostólica pós-sinodal Verbum Domini;
[15] Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral Gaudium et Spes;
[16] Papa Bento XVI, Discurso do Santo Padre durante a visita ao Centro de Concentração de Auschwitz-Birkenau, 28 de maio de 2006;
[17] Papa Gregório IV, Homilia do Domingo de Pentecostes, 19 de maio de 2024;
[18] Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum.